Ambipar tem proteção judicial e enfrenta crise de quase R$ 11 bi

O que motivou a medida cautelar
Na tarde de 25 de setembro, o 3º Juizado Empresarial do Rio de Janeiro concedeu proteção judicial à Ambipar, impedindo que credores acionem a empresa por pagamentos imediatos. A ordem tem validade inicial de 30 dias, com possibilidade de extensão por mais 30 dias, e serve como preparação para um eventual processo de recuperação judicial.
O gatilho da crise foram as emissões de green bonds realizadas nos últimos meses. Variações bruscas na cotação desses títulos e a forma como foram negociados resultaram em perdas significativas, ativando cláusulas de cross‑default em contratos de dívida que previam a aceleração automática de cerca de USD 550 milhões em obrigações.
Dois bancos deixaram claro que exigiriam o pagamento imediato: o Deutsche Bank cobrou R$ 60 milhões em garantias que venciam no mesmo dia, enquanto o Banco Santander enviou notificação exigindo quitação até as 14h, declarando vencimento antecipado das dívidas. O risco de acelerar todas as dívidas colocou a empresa à beira de um colapso financeiro.

Contradições entre caixa e capacidade de pagamento
Os demonstrativos financeiros divulgados até junho de 2025 registram quase R$ 5 bilhões em recursos disponíveis – R$ 2,6 bilhões em caixa e investimentos de curto prazo, além de R$ 2,1 bilhões em um fundo de direitos creditórios (FIDC) com resgate previsto entre 30 e 60 dias. Contudo, a estrutura societária da empresa, composta por mais de 300 subsidiárias, dificulta o rastreamento exato de onde esses fundos estão aplicados.
Investigações preliminares apontam um possível esquema de fraude envolvendo um ex‑executivo que teria assinado um aditivo contratual com o Deutsche Bank sem a devida autorização, direcionando pagamentos a diversos credores de forma indevida. Essa prática poderia ter amplificado a falta de liquidez real da companhia.
Além da esfera judicial, o mercado reagiu de forma abrupta: as ações da empresa (AMBP3) despencaram mais de 50 % no dia do anúncio, refletindo a perda de confiança dos investidores. O juiz Leonardo de Castro Gomes ressaltou que a recusa em conceder a medida poderia gerar consequências irreversíveis para a saúde financeira da companhia.
Os quatro administradores judiciais nomeados – especialistas em reestruturação corporativa – agora supervisionam a gestão dos ativos, buscando alternativas que evitem um processo de falência aprofundado. Enquanto isso, a operação da Ambipar nos setores de gestão de resíduos e soluções ambientais fica sob intensa investigação, levantando dúvidas sobre a sustentabilidade de modelos de financiamento verde em ambientes de alta volatilidade.