China e Alemanha acordam reduzir tensões comerciais e fortalecer parceria econômica
Em um sinal claro de recuo nas tensões econômicas, o vice-primeiro-ministro chinês He Lifeng e o ministro das Finanças da Alemanha, Lars Klingbeil, fecharam um acordo em Pequim na segunda-feira, 17 de novembro de 2025, para estreitar laços comerciais e criar um ambiente mais previsível para empresas de ambos os lados. O encontro, parte do Diálogo Financeiro China-AlemanhaPequim, foi a primeira visita oficial à China de um ministro do novo governo alemão liderado por Friedrich Merz, que assumiu em 2025. A mensagem era clara: mesmo com diferenças profundas, a interdependência econômica é maior do que as disputas.
Do dumping à cooperação: o que mudou?
Nos últimos anos, a relação entre as duas potências industriais oscilou entre tensão e pragmatismo. A Alemanha, tradicionalmente o maior parceiro comercial da China na Europa, viu sua confiança abalada por restrições chinesas a exportações de chips e terras raras — insumos críticos para sua indústria automotiva e de alta tecnologia. Ao mesmo tempo, empresas alemãs se queixavam do excesso de capacidade chinesa em setores como aço, energia solar e veículos elétricos, que inundavam o mercado europeu com preços abaixo do custo. "Do ponto de vista alemão, vemos uma concorrência justa em risco e também vemos empregos industriais ameaçados", disse Klingbeil, em tom direto, mas sem acusações abertas.He Lifeng respondeu com um discurso de cooperação pragmática: "Pequim está comprometida em trabalhar com a Alemanha para expandir a cooperação conjunta e promover um ambiente de negócios justo, equitativo e não discriminatório". Ele evitou mencionar empresas específicas, mas deixou claro que a China não aceita ser vista como vilã — e que a estabilidade da cadeia global de suprimentos depende de ações concretas, não de retórica. "Devemos adotar ações práticas e pragmáticas e não sermos influenciados por vários fatores que interferem na segurança e na estabilidade da cadeia industrial global", afirmou.
China retoma liderança comercial — e os dados não mentem
O acordo ocorre em meio a uma reversão histórica: nos primeiros oito meses de 2025, o comércio bilateral entre China e Alemanha atingiu 163,4 bilhões de euros, superando pela primeira vez desde 2016 o volume com os Estados Unidos (162,8 bilhões). Isso representa uma virada radical. Em 2024, os EUA haviam retomado a liderança, após anos de domínio chinês, graças a esforços alemães para diversificar cadeias de suprimento. Mas os números de 2025 apontam para algo inesperado: a Alemanha está, de fato, mais dependente da China — e não menos.As importações alemãs da China subiram 8,3% no período, chegando a 108,8 bilhões de euros. Carsten Brzeski, chefe global de macro do ING, alerta: "O novo aumento das importações da China é preocupante, especialmente porque os dados mostram que essas importações são feitas a preços de dumping". Isso não é só um problema de concorrência — é um risco estrutural para indústrias locais, como a de baterias e componentes para veículos elétricos, onde a China já controla mais de 70% da produção mundial.
Um jogo de influência: Alemanha, UE e China
He Lifeng não escondeu sua estratégia: quer que a Alemanha use sua influência dentro da União Europeia para suavizar a postura coletiva contra Pequim. "Esperamos que a Alemanha ajude a melhorar os laços entre a China e a UE", disse ele, em um recado direto ao bloco. Klingbeil, por sua vez, reconheceu a complexidade: "Devem existir condições justas para a concorrência no comércio com a China, e o diálogo é importante". Mas também não esqueceu de lembrar que empresas alemãs foram fundamentais para a modernização da indústria chinesa — investindo em tecnologia, treinamento e know-how.Ao mesmo tempo, a UE ainda mantém sanções em vigor. Em outubro de 2025, a Comissão Europeia impôs tarifas de até 45,3% sobre veículos elétricos chineses, após investigação que apontou subsídios estatais e dumping. A China respondeu com uma nota oficial, dizendo que a medida é "protecionista e contrária às regras da OMC". Mas o cenário global mudou: com o presidente dos EUA, Donald Trump, impondo tarifas generalizadas sobre a Europa e a Ásia, a Alemanha e a UE estão sendo puxadas para uma posição mais negociadora.
O que vem a seguir? O acordo de investimento que nunca chegou
Na sexta-feira, 6 de novembro de 2025, o Ministério do Comércio da China anunciou que está disposta a retomar negociações sobre o Acordo Abrangente de Investimento UE-China, congelado desde 2021 por causa das sanções da UE contra autoridades chinesas por violações de direitos humanos em Xinjiang. O porta-voz He Yadong disse que Pequim "está aberta a explorar a possibilidade de negociar vários acordos econômicos e comerciais".Porém, há um obstáculo gigante: o apoio da China à Rússia na guerra na Ucrânia. O ministro das Relações Exteriores da Estônia, Margus Tsahkna, revelou que discutiu com o diplomata chinês Wang Yi a possibilidade de um novo acordo de livre comércio UE-China — diferente do de investimento — mas alertou que "o apoio à Rússia pode atrasar sua conclusão".
Dirk Jandura, presidente da associação de comércio exterior BGA, aponta a realidade: "Não há dúvida de que a política tarifária e comercial dos EUA é uma razão importante para o declínio nas vendas alemãs para os Estados Unidos". E com o euro mais forte e a ameaça contínua de novas tarifas americanas, Jandura acredita que "as exportações alemãs para os EUA não se recuperarão tão cedo".
As empresas alemãs no meio
Enquanto governos negociam, empresas como Volkswagen, BMW e Siemens operam em dois mundos: produzem na China, compram componentes da China, mas enfrentam pressão política para reduzir dependência. Muitas já estão reequilibrando — investindo em Vietnam, Índia e México — mas não podem se livrar da China tão facilmente. Afinal, 40% dos componentes de baterias para carros elétricos na Alemanha vêm da China. E os preços lá são irrecusáveis.Frequently Asked Questions
Como o acordo entre China e Alemanha afeta as empresas alemãs?
O acordo reduz a incerteza imediata, permitindo que empresas alemãs como Volkswagen e Siemens planejem investimentos na China com menos risco de sanções ou restrições. Mas a dependência de insumos chineses — especialmente terras raras e baterias — continua alta, e o dumping ainda ameaça setores locais. O acordo não resolve o problema estrutural, apenas cria um canal de diálogo para evitar piores conflitos.
Por que a China voltou a ser o principal parceiro comercial da Alemanha?
Apesar dos esforços alemães para diversificar cadeias, a China oferece preços mais baixos, escala produtiva e infraestrutura logística superior. Em 2025, as importações chinesas subiram 8,3% para 108,8 bilhões de euros, enquanto os EUA perderam competitividade por tarifas e custos mais altos. A Alemanha não abandonou a China — simplesmente não conseguiu encontrar alternativas viáveis.
Qual é o impacto das tarifas de 45,3% sobre veículos elétricos chineses?
As tarifas, impostas pela UE em outubro de 2025, afetam principalmente marcas como BYD e NIO, que tentavam entrar no mercado europeu. Mas elas também aumentam os preços para consumidores alemães e atrasam a transição energética. Empresas como BMW e Mercedes já alertaram que os custos podem ser repassados aos clientes, o que pode desacelerar a adoção de carros elétricos.
O acordo UE-China de investimento pode ser retomado?
Sim, mas com grandes obstáculos. A China sinalizou abertura em novembro de 2025, mas a UE exige garantias de direitos humanos e acesso ao mercado chinês. O apoio de Pequim à Rússia e a ausência de progresso em Xinjiang são impedimentos políticos. Mesmo que o acordo seja retomado, sua ratificação por todos os 27 países da UE pode levar anos — e ainda pode ser bloqueado por países como a Estônia.
A Alemanha está se tornando mais dependente da China?
Sim, e isso é paradoxal. Apesar das promessas de "desacoplamento", as importações chinesas cresceram 8,3% em 2025, enquanto as exportações alemãs para os EUA caíram por causa das tarifas de Trump. A Alemanha precisa de componentes chineses para sua indústria automotiva e de energia limpa — e não há substitutos prontos. A dependência não é ideológica, é técnica e econômica.
O que isso significa para o futuro da UE?
A UE está dividida: países como a Alemanha querem negociar com a China para proteger seus interesses industriais, enquanto outros, como a França e a Estônia, temem ceder espaço à influência chinesa. Sem uma posição unificada, a UE corre o risco de ser um mero espectador na nova ordem econômica global, onde EUA e China definem as regras — e os europeus pagam a conta.