Crise entre Lula e Alcolumbre abre caminho para anistia a Bolsonaro após prisão em novembro de 2025
Em 22 de novembro de 2025, o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro foi preso em Brasília, num movimento inédito na história recente da República — e que, paradoxalmente, só foi possível porque o Senado Federal estava em guerra aberta com o Luiz Inácio Lula da Silva. A prisão, anunciada pela Justiça Federal após condenação por crimes de responsabilidade durante o governo, não foi um ato isolado. Foi o ponto culminante de uma crise institucional que começou dois dias antes, quando Lula, sem aviso, indicou Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal. A escolha, feita em pleno feriado nacional, foi vista por aliados do presidente do Senado como um desrespeito deliberado. E a retaliação veio rápido — e brutal.
Uma indicação que quebrou o jogo
Em 20 de novembro de 2025, Lula anunciou publicamente a nomeação de Jorge Messias, advogado-geral da União e figura de confiança do Palácio do Planalto. Mas ninguém no Senado foi consultado. Nem mesmo Davi Alcolumbre, presidente da Casa e líder do União, partido com base em Macapá. Alcolumbre já havia alertado o governo: Messias não tinha votos. Ele defendia abertamente o nome de Rodrigo Otávio Soares Pacheco, ex-presidente do Senado e seu aliado político mais próximo. A indicação de Lula foi interpretada como um sinal de que o presidente não precisava mais do Senado — e que, se precisasse, iria impor sua vontade por força da caneta presidencial.A pauta-bomba que virou arma
A resposta de Alcolumbre não demorou. Em 21 de novembro, ele colocou em pauta para 25 de novembro um projeto de lei complementar que regulamenta a aposentadoria especial dos Agentes Comunitários de Saúde e dos Agentes de Combate às Endemias. O projeto, aprovado pela Câmara com 446 votos em outubro, estava arquivado há semanas. O impacto? R$ 24,7 bilhões em despesas públicas nos próximos dez anos. Um número comparável à ‘pauta-bomba’ usada por Eduardo Cunha contra Dilma Rousseff em 2015. O governo temia que a medida, apoiada por sindicatos e categorias da saúde, desestabilizasse a base aliada. Mas Alcolumbre não estava interessado em estabilidade. Ele queria fazer do Senado um campo de batalha. "É vingança", disse uma fonte à Correio Braziliense. "Ele não quer derrubar Lula. Ele quer mostrar que Lula não é dono de nada. Nem da Justiça. Nem da pauta. Nem da agenda nacional."Relação quebrada — e sem volta
Segundo a CNN Brasil, Alcolumbre passou 48 horas sem atender ligações do Planalto. Mesmo quando o governo tentou um contato direto, o senador negou ter recebido qualquer ligação. "Não há diálogo. Não há negociação. Não há espaço para mediação", afirmou um senador da base aliada sob anonimato. A ruptura é tão profunda que, mesmo antes da prisão de Bolsonaro, parlamentares da oposição já se movimentavam. "Se o Senado está em rebelião contra o Executivo, quem ganha? Quem está preso e precisa de uma saída política", disse um deputado do PL ao G1. "Bolsonaro é o símbolo. E agora, com o Senado em crise, ele vira um símbolo de resistência."Um cenário perfeito para a anistia
A prisão de Bolsonaro, em 22 de novembro, não foi apenas um ato judicial. Foi um evento político. E os opositores de Lula souberam aproveitar. Nos bastidores do Senado, senadores do PL, União e PSD começaram a discutir em sigilo um projeto de anistia parcial para ex-presidentes condenados por crimes de responsabilidade — um tipo de medida que, até então, era considerada inimaginável. "Agora, o que importa não é se Bolsonaro é culpado ou inocente. O que importa é se o governo vai conseguir governar com o Senado como inimigo", disse o senador Alvaro Dias (Podemos-PR) em entrevista à Veja. "Se Lula quer manter o controle da pauta, ele precisa de Alcolumbre. Mas Alcolumbre não quer mais ser seu parceiro. Ele quer ser seu juiz."
Os riscos de um STF politizado
Enquanto isso, a nomeação de Jorge Messias permanece suspensa. Deltan Dallagnol, no artigo publicado na Gazeta do Povo, alertou que o risco maior não é a indicação em si, mas o que ela representa: "Um ministro do STF que não é escolhido por mérito, mas por lealdade política. Um juiz que não julga, mas garante governabilidade pela via judicial." A preocupação é que, se Messias for aprovado, o Supremo pode se tornar um braço executivo — e não um contrapeso. Isso, para juristas, é um risco constitucional. Para o eleitorado, é um sinal de que a democracia está se desgastando por dentro.2026: a eleição que já começou
O que parecia uma crise pontual é, na verdade, o início de uma nova fase política. Alcolumbre, que já foi apontado por aliados como "o novo Davi" — referência ao ex-senador que liderou o impeachment de Dilma —, está sendo visto por muitos como uma figura de oposição estrutural. Ele não precisa ser candidato a presidente. Basta ser o contrapeso. E Bolsonaro, mesmo preso, continua sendo o maior nome da direita. A anistia não é só um gesto de justiça. É um movimento eleitoral. "Se o Senado aprovar uma redução de pena para Bolsonaro, ele sai da prisão como herói. E aí, em 2026, ele não precisa ser candidato. Ele só precisa ser o nome que ninguém ousa ignorar", disse um estrategista da oposição à Revista Oeste.Frequently Asked Questions
Como a crise entre Lula e Alcolumbre afeta a possibilidade de anistia a Bolsonaro?
A ruptura entre o Executivo e o Legislativo criou um vácuo de poder que a oposição está explorando. Com o Senado em desacordo com o Planalto, parlamentares da base aliada de Lula estão receosos de apoiar medidas judiciais rígidas contra Bolsonaro, temendo represálias políticas. Isso abre espaço para que senadores da oposição, liderados por Alcolumbre, apresentem projetos de anistia sem medo de perder apoio do governo — que, por sua vez, está enfraquecido pela crise institucional.
Por que o projeto da aposentadoria dos agentes de saúde é tão polêmico?
O projeto tem impacto fiscal de R$ 24,7 bilhões em dez anos, o que o torna uma das maiores despesas não previstas da gestão Lula. Mas o que o torna ainda mais explosivo é o timing: ele foi arquivado por semanas e só foi colocado em pauta após a indicação de Messias. Isso o transformou em uma arma política, não em uma medida social. Muitos parlamentares da base governista temem que a aprovação force a renúncia de ministros que dependem do apoio de sindicatos da saúde.
Qual é o papel de Rodrigo Pacheco nessa crise?
Rodrigo Pacheco é o candidato alternativo de Alcolumbre para o STF, e também seu braço direito no Senado. Embora não esteja diretamente envolvido na crise, sua figura representa o que Alcolumbre quer: um juiz com histórico de alinhamento com o Legislativo, não com o Executivo. Se Messias for rejeitado, Pacheco pode se tornar o próximo nome em discussão — e isso reforçaria a ideia de que o Senado está assumindo o controle da escolha do Judiciário.
O que acontece se o Senado rejeitar Jorge Messias?
Se Messias for rejeitado, Lula terá de escolher outro nome — e a pressão para que seja alguém neutro aumentará. Mas o dano político já está feito: o precedente de uma indicação sem consulta ao Senado foi estabelecido. Isso pode levar a uma reforma constitucional no futuro, exigindo consenso prévio para nomeações ao STF. A crise não termina com a votação — ela muda as regras do jogo.
A prisão de Bolsonaro pode ser revertida por meio de uma anistia?
Sim, mas não automaticamente. Uma anistia exigiria aprovação por maioria absoluta no Senado e na Câmara, além da sanção presidencial — o que é improvável com Lula no poder. Por isso, os opositores estão discutindo uma "redução de pena" ou "livramento condicional" baseada em critérios humanitários, não em anistia formal. É uma saída jurídica mais viável, e que ainda permite a Bolsonaro retornar à vida pública — e à campanha de 2026.
Por que Alcolumbre está sendo comparado a Davi Cunha?
Porque, assim como Cunha usou a Câmara para derrubar Dilma, Alcolumbre está usando o Senado para desgastar Lula — não por ideologia, mas por poder. Ele não quer ser presidente. Quer ser o árbitro. E, como Cunha, ele entende que, em tempos de crise, quem controla a pauta controla a narrativa. O sorriso no canto da boca? É o de quem sabe que, mesmo sem o cargo, ele está vencendo.